Eugeo e a Desconstrução de Sua Visão de Mundo — Alicization Beginning — Review do Prólogo I-Vanguarda Podcast #83
Bem, primeiramente, olá a você, leitor que aqui está lendo essa review. Meu nome é Matheus, mas pode me chamar de Math ou Matt. No Twitter vocês podem me encontrar por @matt_eae.
Recentemente, decidi reler Sword Art Online desde o início e, agora, cheguei em Alicization, o maior e mais ambicioso arco da série até agora.
Curiosamente, o volume 9 foi o primeiro que eu li de SAO lá em 2021 pela tradução da Panini (quando ainda não era lá tão boa assim…), então é de se esperar que eu não tenha grande memória da novel, apenas do anime. Por isso, está sendo uma experiência praticamente inédita, e com certeza muito proveitosa.
Agora, lendo a obra na ordem e pela tradução de fã que é muito mais acurada que a oficial, acredito que finalmente posso consumir Alicization de forma definitiva.
A pedido do L.N.B, estarei escrevendo uma série de reviews/análises do arco, capítulo por capítulo. Dando contextualização da história, analisando certos aspectos dela e falando da minha opinião pessoal quanto ao que está sendo apresentado. (Isso provavelmente vai demorar um bocado até acabar, já que cada capítulo desse negócio é GIGANTE.)
Quero logo avisar que, por ser o primeiro capítulo, já somos apresentados a uma grande e vasta quantidade de lore que contribui para o worldbuilding do Underworld. Por isso, essa review provavelmente vai ser mais longa do que o que normalmente vemos, já que há muita coisa pra se conversar sobre tudo isso. Já estejam avisados.
Enfim, vamos ao que interessa:
Correntes de galhos – a prisão de Eugeo.
Logo de cara, somos apresentados sem contexto
nenhum a um novo mundo. E também ao nosso querido protagonista que, pelo menos
nesse prólogo…. não é o Kirito! Mesmo que ele esteja junto.
Praticamente tudo aqui é narrado na visão do
Eugeo, enquanto faz as suas atividades diárias ao cortar a Árvore Demoníaca, o
Cedro Gigas.
Mesmo no início, Eugeo já é um personagem
absolutamente interessante para mim: Uma criança acorrentada à sua tarefa, mas
querendo ver muito mais.
O Cedro Gigas é uma Árvore gigante que,
devido ao tamanho dos seus galhos e a extensão de suas raízes no solo, recebe
todas as bênçãos de Solus – cobrindo
as plantações e fazendo com que o Sol não as atinja – e Terraria – por conta das raízes profundas, puxando todos os
nutrientes do solo para ele –, que
podiam ser dadas às outras plantações na vila de Rulid, – vila que Eugeo e o
trio mora. Por isso, o Cedro Gigas é chamado de Árvore Demoníaca, pois não
deixava as outras plantações por perto prosperarem.
O Cedro Gigas é absolutamente resistente, com
pontos de vida imensos, que são baixados constantemente apenas por um machado
feito de ossos de dragão que, para a vila, é uma arma extremamente forte, mesmo
inferindo um dano quase ínfimo, nunca realmente fazendo uma ferida profunda.
Sendo cortada diariamente por mais de 3 séculos, a árvore recupera metade do
dano que recebeu no dia, então o trabalho que já era quase insignificante perde
metade do valor…
De geração em geração, o machado e a Tarefa Sagrada de cortar a Árvore é
passada, até então chegar a Eugeo e Kirito, quando tinham 10 anos.
Tarefas Sagradas são trabalhos atribuídos a
cada um dos habitantes do Império Humano e é escolhida por outro alguém que não
a pessoa que irá recebê-la. Uma vez dada a Tarefa, ela não poderia escolher
outra ou não a cumprir, isto é, até cumprir seu Propósito.
Algumas tarefas chegavam a um fim e quando
isso, a pessoa poderia então ter o direito de escolher sua própria Tarefa. E o
trabalho de Eugeo era justamente desse tipo, quando enfim cortasse a árvore.
Mas era óbvio, ele nunca se livraria disso.
Durante 300 anos, somente ¼ da árvore foi cortada. Jamais poderia esperar por
um milagre e puff, árvore cortada.
Percebemos que por isso, Eugeo é um garoto
ligeiramente mais pessimista e pra baixo, e realista.
“Tudo
isso abalava o seu humor. A depressão era uma constante e a frustração era
tangível.”
Então
ele engole o fato de não poder sair dali, mas realmente não queria ficar preso
num trabalho destes.
Ele tinha sonhos, queria ver mais, explorar
mais, ser mais… ser alguém da guarda, um Espadachim e então um dia se tornar um
herói como os Cavaleiros da Integridade, aqueles que ele tanto admirava..., mas
estava ele ali, acorrentado em um trabalho sem fim, preso aquela Árvore.
Imagine a frustração dele? Eu acho que até
chega a ser difícil. Ainda mais entrando na perspectiva de uma criança que é
naturalmente sonhadora, ingênua e otimista. Mas, desde cedo, Eugeo teve que ser
diferente justamente por um trabalho que ele não queria prestar. Então Eugeo é
realista, esperto e pessimista.
Para ele, não importava o tempo que passasse,
a Vila Rulid continuaria sendo uma vila pobre por estar presa àquela árvore.
Justamente por ter essa perspectiva desde
cedo, uma pequena semente de revolta e necessidade de mudança havia sido
plantada nele e, por querer ir além daquela Árvore, ele também era curioso, o
que causa alguns pensamentos muito interessantes para ele.
“Porque os adultos, que queriam tanto expandir a vila, não fizeram
nada para mudar até agora? [...] Se eles realmente queriam aumentar os campos,
podiam pegar um pequeno desvio e deixar a enorme árvore em paz e ir em direção
mais ao sul do bosque.
Por que o chefe, que era dito o mais sábio,
não fez o menor esforço para revisar essas tradições antigas?
Ele simplesmente não entendia porque as
pessoas só simplesmente acatavam essas regras sem questionar nada, como se não
tivessem opinião própria. Uma vez ele perguntou porque a vila não simplesmente
se expandia para outros cantos longe da Árvore, e então é respondido dizendo
que aquilo era “um juramento dos antepassados, e que não poderiam abandonar
aquilo”. E depois, perguntou “porque decidiram construir a Vila justamente
naquele canto…?” e então a pessoa desconversou, irritada.
Mas
não é como se ele mesmo pudesse demonstrar essa revolta, afinal, havia algo
maior controlando ele e as pessoas ao seu redor: a Igreja e o Índice de Tabus.
Como eu só tinha a memória do anime, enquanto
lia fui me surpreendendo bastante com a quantidade de lore do Underworld que já
foi jogada pro leitor. Surpreendentemente, não me pareceu maçante de se ler –
talvez porque eu já sabia dessa lore previamente? Talvez, mas acho que foi
realmente um mérito do Reki ao apresentar tanta construção de mundo de forma
tão natural e fluida.
O Índice de Tabus é a mais absoluta lei que
rege todos os Submundanos (habitantes do Underworld) no Império Humano,
ultrapassando a importância de toda outra regra – como as de cada um dos
impérios que dividem o Império Humano, ou ainda a de uma pequena vila como
Rulid.
São leis dadas pela “Igreja de Axioma”,
publicadas em um grande livro, dividido em capítulos, versículos e etc. É
tratado como se fosse a bíblia, uma escritura sagrada que deve ser aprendida
por todos no Underworld, sendo, uma das leis, fazer todas as crianças
memorizá-las.
Num geral, as leis são uma grande coleção de
“coisas que não se deve fazer”.
A Igreja de Axioma é aquela que basicamente
controla todo o Império Humano, através do Índice, da crença das pessoas nos
deuses (Stacia, Terraria, Solus e etc.) e também através de dividir o Império
Humano em 4 impérios menores, que já havia citado antes. Estes sendo:
Norlangarth (norte); Eastabarieth (leste);
Wesdarath (oeste); e Southacroith.
Inclusive, escrevendo isso acabo de perceber
que parte dos nomes dos impérios são o começo do nome de cada ponto cardeal,
tá, detalhe besta legal, KKKKKKKK.
O Império Humano é no formato de um círculo
dividido em 4 e, no centro de tudo isso, está a capital de Centoria, e lá
também está a Catedral Central, de onde a Igreja de Axioma administra todo o
Underworld.
Existem também os Cavaleiros da Integridade,
os guerreiros mais poderosos de todo o mundo, a personificação máxima da lei e
da justiça, e também a Força Militar da Igreja de Axioma.
Apesar de tudo isso, existem lugares que os
absolutos Índice de Tabus e Igreja não alcançam. Essas terras ficam além das
Montanhas do Fim, que são meio que a borda de todo o Império Humano. Toda a
extensão além do Império se chama Território Sombrio.
E é óbvio que para a Igreja e seus
seguidores, aquele lugar era abominável e era extremamente proibido sequer
pisar lá.
BOM, talvez eu tenha me estendido demais na
lore, peço desculpas por isso. Mas sei que ainda assim, deixei muita coisa
passar. Voltemos para nosso querido trio.
Somos então apresentados a terceira e última
integrante do nosso grupinho de crianças tão amado: Alice Zuberg.
Alice é uma garota também de 10 anos, loira,
de olhos azuis e coincidentemente usa as mesmas roupas que a personagem Alice,
de Alice no País das Maravilhas (ao longo de Alicization veremos muitas outras
referências a vários contos clássicos, predominando Alice no País das
Maravilhas)
Uma menina muito mandona, marrenta, mas
paradoxalmente delicada, responsável e companheira. Ela também é aprendiz da
Igreja nas “artes sagradas”, ficando assim isenta da obrigação da Tarefa
Sagrada.
Gosto muito como o grupo “Kirito, Eugeo e
Alice” é tratado aqui. Eles são crianças muito fáceis de acreditar que são
realmente… crianças. Em muitas obras, principalmente japonesas, é fácil de se
encontrar personagens infantis não muito bem retratados como uma, sendo estranhamente
maduras para a idade e outros fatores, não parecendo natural.
E é claro, Eugeo é sim, uma criança muito
madura para a idade dele. Sendo normalmente o mais certinho, responsável e
calmo do grupo. Mas em diversos momentos, ele deixa escapar a criança interior,
buscando por aventuras, sendo medroso, fazendo bagunça, sendo irresponsável e
infantil… etc.
E o Kirito não tem nem o que falar, a
personalidade malandra, sapeca e serelepe desse moleque está a 1000% aqui como
criança, arteiro que só.
É dito que Kirito e Eugeo são os top 1 e 2
crianças mais bagunceiras e malcriadas da vila e que são constantemente
repreendidos pelos mais velhos, e eu realmente consigo acreditar nisso vendo
tudo isso da caracterização deles, que é pouco, mas é muito eficiente.
Mas mal sabem que, quem verdadeiramente
lidera esse grupo e, consequentemente, mete nossos dois meninos em várias
enrascadas e trapalhadas… É ALICE AKKADJKAKDJAKJDAKKA, a garota considerada o
orgulho e maior exemplo da vila… aiai…
Acho que consegui transmitir um pouquinho o
quanto amo a química desse grupo.
Passando por cima da história, Alice, que
traz o almoço pros dois todos os dias, trouxe mais uma vez e então, o trio
começa a falar sobre o descontentamento na comida perder os seus pontos de vida
tão rápido no verão. Por isso, precisavam comer rápido, sem conseguir
aproveitar.
Eles decidem então pegar gelo. De onde, você
se pergunta? O gelo das Montanhas do Fim, na borda do Império Humano.
Quando o avô de Eugeo ainda era vivo, ele contava várias histórias para o trio e uma delas foi “Bercouli e o Dragão Branco do Norte.”
Bercouli, de acordo com as lendas, era o
espadachim mais forte, que foi chefe da guarda na primeira geração, logo na
fundação da vila de Rulid, 300 anos atrás.
Também no verão, Bercouli viu gelo num rio
perto da vila. E seguindo o rio, encontrou uma caverna e a adentrou. Era fria e
indo mais fundo, encontrou o ninho de um enorme dragão branco dormindo, este
que protegia o Império Humano. Estava deitado sobre uma pilha de tesouros e
objetos diversos. Dentre estes, uma linda e longa espada de brilho azulado…
Bercouli, encantado pela arma, tentou a puxar
para si… e a história ia até aí.
É uma lenda bem curta, até mais do que eu
lembrava. Na minha memória tinha até uma parte que o Bercouli lutava com o
Dragão para conseguir a espada, mas nada disso…, mas não posso negar, ela
continua uma história muito interessante, ainda mais por nos dar informação de
duas coisas muito importantes para o futuro desse arco: Bercouli e a tal
espada.
Essa história é absolutamente famosa e
Bercouli é adorado como um herói pelas crianças e, consequentemente, por Kirito
e Eugeo.
O grupo decide ir até essa caverna procurar
gelo, já que, na história, havia gelo no verão, então não custava tentar buscar
também.
Eles até pensam que estariam quebrando as
regras tanto da vila, quanto do Índice de Tabus, por estarem se aproximando das
Montanhas do Fim e consequentemente, do Território Sombrio. Mas Alice
contraria, dizendo que só não poderiam ultrapassar a divisória que separa as
duas partes do mundo.
Em pouco tempo, eles chegam até a caverna.
Na verdade, chegaram rápido até demais.
Juravam que era muito mais longe do que isso. Então, isso significava que Rulid
ficava bem na borda do Império Humano…
Eugeo fica confuso. “Temos vivido tanto tempo, mas não sabemos onde está localizado o nosso
mundo? Não! Será que nem os adultos sabem que as Montanhas do Fim é tão
próxima? Nestes trezentos anos de história, os únicos que cruzaram o bosque e
se dirigiram para o norte, além de Bercouli, fomos nós?”
Essas perguntas sem respostas rondam a cabeça
dele, mas, sabendo que eram coisas inúteis, logo as afasta.
Ao adentrarem a caverna, temos o primeiro uso
de Artes Sagradas na série, Alice sendo obviamente quem a fez.
Gradativamente o frio aumenta e
consequentemente, mais perto o gelo estaria. Animados, eles andam mais e mais
rápido até chegar numa ampla “sala” dentro da caverna. Aquela era,
provavelmente, a foz congelada do rio de Ruhr, por onde seguiram.
Paredes curvas cobertas de gelo, como um
domo, se estendendo até o céu parecendo o teto da catedral de uma igreja.
Aquilo com certeza era gelo suficiente para
eles preservarem a própria comida e até da vila inteira.
Kiritinho, imprudente como sempre, começa a
procurar pelo Dragão Branco na caverna.
Quanto mais adentrou e consequentemente, seus
amigos junto, finalmente se deparou com o Dragão. Ou melhor, com o que restou
dele.
O que eles haviam se deparado era, na
verdade, a maior tumba da história, pois lá havia apenas uma grande pilha de
ossos. Pelo seu crânio, era fácil identificar que aquele era realmente o Dragão
protetor do Império Humano.
Kirito se aproxima da montanha de ossos e
percebe que, pelos danos de cortes, raspões e etc., não poderia ser uma morte
de causas naturais, alguém matou ele.
Mas quem poderia fazer isso? Um monstro do
Território Sombrio? Improvável. Aquele Dragão era o defensor do Império Humano,
o mais forte existente. Se havia algo mais forte, porque já não havia cruzado a
fronteira?
Então seria um espadachim qualquer? Muito
menos, se nem sequer Bercouli foi capaz de derrotá-lo, podendo apenas fugir.
Quem sabe então os… Cavaleiros da Integridade.
Alice pensou.
Mas por que eles? Porque a personificação
máxima de justiça e bondade mataria justamente um protetor dos humanos? Não
fazia sentido
A cabeça dos garotos estava uma confusão, mas
logo, novamente afastaram esses pensamentos que não levariam a lugar nenhum.
Eu realmente gosto como em toda essa história
já nos é apresentado que há alguma
coisa de errado, e como quem percebe
a maioria delas é Eugeo.
Desde a obediência cega dos habitantes de
Rulid; o motivo de Rulid ser construída ali mesmo com aquela árvore; a
frustração quando a ficar preso a ela; as incongruências quanto a distância
real de Rulid até outros lugares; e agora, com o protetor do Império Humano
sendo morto pelos heróis da humanidade.
Durante o prólogo várias incongruências e
perguntas vão inundando a cabeça de Eugeo, e ele sabe que, se continuasse
pensando nisso, sua fé à Igreja e aos Cavaleiros seria abalada, então foi
afastando esses pensamentos.
Voltando para a Tumba do Dragão.
Como disse antes, haviam tesouros e objetos
variados lá.
Uma espada longa, de cristal de brilho
azulado e gélido, com uma rosa azul gravada na guarda da arma. Até tentaram
segurar a espada, mas era pesada demais. Mesmo se os três tivessem de segurar
junto, não conseguiriam.
BLUE ROSE SWORD AAAAAAAAAAAAA.
Depois de pegar todo o gelo que conseguiram,
era hora de voltar para casa, mas havia um pequeno problema…
Por qual lado eles vieram?
Alice pergunta e, em resposta, Kirito e Eugeo
apontam por de onde acreditavam ter entrado. O PROBLEMA É QUE OS DOIS APONTARAM
PRA DOIS CANTOS TOTALMENTE CONTRÁRIOS KKKKKKKKKKKKKKKKKKK.
Eles procuravam por alguma marca ou sinal que
indicava a saída, até escutarem o som do vento. Eles seguem o vento e veem
também luz.
“Meu
coração parece que vai saltar do peito. Quero voltar logo para a aldeia que é o
meu lugar. Estou certo que minha família vai se surpreender quando eu lhes
mostrar esses pedaços de gelo. [...]
Já tive o suficiente dessa
aventura. Agora chega, só quero chegar em casa logo… ”
Eugeo
pensa. Ele quer logo voltar para casa, onde se sente seguro, viu demais num só
dia. Mais do que uma criança poderia suportar, mal sabia o quanto mais veria
naquele dia.
Quando eles se aproximam da saída… Vermelho
preenche o olhar de cada um deles. Era a cor do céu, como se estivesse
sangrando. O chão feito de cascalho seco, as árvores negras e mortas. Aquilo
era… o Território Sombrio.
Muito interessante como, na cabeça dos
garotos, o Território Sombrio era apenas uma lenda, contos que os adultos
contavam como forma de assustar as crianças ou algo assim…, mas lá estava ele
lá, na frente dos seus olhos.
Eugeo não podia mais suportar o turbilhão de
coisas que aconteceram em um dia inundando a sua cabeça. Ele não era mais capaz
de pensar por si.
Então, de forma repentina, uma certa parte do
Índice de Tabus apareceu na mente que já estava completamente branca: “Ninguém poderá ir além da passagem das
Montanhas do Fim do norte, a qual compreende o fim do Império Humano. ”
Eles não podiam avançar mais, mas então, veem
no céu: Dois cavaleiros montados em dragões em pleno voo e combate. O de
armadura clara não havia nem o que dizer, era um cavaleiro da integridade, e o
outro, de armadura negra… um cavaleiro das trevas.
Para a surpresa deles, o de negro tinha força
equiparável ao cavaleiro da integridade. Então, era uma mentira que eles não
poderiam ser derrotados por mal algum? Afinal, não há muita diferença nas
habilidades deles.
Mas então, o cavaleiro das trevas é derrotado
com uma flecha no peito, caindo no chão, seu dragão também.
Pouco antes de morrer, o cavaleiro estende
sua mão, como se estivesse tentando se agarrar a vida.
“Ah…!”
Alice se move como se estivesse sendo
absorvida pela cena, se aproximando mais e mais em direção ao território negro…
Eugeo nem conseguiu reagir, e Kirito logo deu
um grito. Ao escutar, Alice tremeu o corpo tentando parar, mas seu pé já estava
em movimento e o corpo para frente. Ela começa a cair.
Dessa vez, Eugeo que estica a mão por puro
reflexo, para puxá-la. Mas seus dedos só conseguiram segurar o ar…
Alice, caída no chão, estava com sua mão
estendida para a frente, essa que estava tocando a terra… a terra do Território
Sombrio.
Era óbvio para eles, que nada aconteceria.
Ela apenas tocou o chão por um acidente, não foi proposital, o resto de seu
corpo nem ultrapassou a divisória…, mas Alice estava atônita e ficou assim por
todo o resto do dia.
Kirito e Eugeo olham para trás e veem algo se
formar no meio do nada. Foi como se o tecido da realidade se distorcesse e
formasse uma cabeça de gênero indefinido, que diz: “Unidade Singular. Prosseguindo com rastreio e identificação.
Coordenadas fixadas. Informe completo. ” Da mesma forma que veio, foi.
Era um evento estranho demais para ser ignorado,
mas, para não preocupar Alice, não comentaram sobre isso com ela. Durante todo
o caminho da volta, todos estavam absortos nos próprios pensamentos,
principalmente Alice, aquela que havia tocado o chão de terras impuras.
Eugeo estava com medo de ser capturado, sabia
que aquela coisa apareceria novamente e lhes causariam algum mal…
Quando finalmente voltam para a vila, Alice
diz, como se para afastar os maus pensamentos do grupo: “Podem esperar pelo almoço de amanhã. Como recompensa pelo trabalho de
vocês, vou fazer o meu melhor!”
…. Mal sabiam eles… ou melhor, tinham algum
pressentimento de que algo aconteceria no próximo dia. Por todas as preocupações
e coisas que aconteceram a pouco, Eugeo foi dormir mais cedo, para não pensar
no que aconteceu, fugir daquilo.
No dia seguinte, Eugeo e Kirito voltaram para
seu trabalho, cortando a árvore. E mais do que nunca, Eugeo estava concentrado
em cada um de seus golpes, pois sabia que se vacilasse, lembraria do que
aconteceu no dia anterior.
Bom, sabemos o que aconteceu em seguida.
Como minha memória é quase full do anime, me
surpreendeu o quanto Gasfut, (para os que não lembram, pai de Alice) ficou
realmente chocado em saber o que aconteceria com sua filha. Era clara a
tristeza, hesitação, incredulidade e todos os sentimentos que um pai sentiria
ao ouvir isso sobre seu filho. Enquanto que, pelo que eu lembro do anime, o
Gasfut até se surpreende, mas logo aceita, dando uma péssima imagem para o
personagem (mesmo que ele seja bem whatever.). Mas é claro, ele também
relutantemente aceita, afinal, Índice de Tabus, não poder contrariar a Igreja e
etc.…
Os garotos tentam contrariar o cavaleiro,
bolar um plano para salvar Alice e fugir com ela, mas bem sabemos o que
acontece: Kirito é jogado ao chão somente com a “pressão do olhar” do
Deusoulbert (que logo mais saberemos o que realmente é) e Eugeo fica travado,
suas pernas fixadas ao chão.
As pernas não se mexiam, sua voz não saia.
Ele queria gritar como Kirito, mas parecia que sua boca havia desaprendido a
falar.
Alice olha para ele e sorri, como se
estivesse dizendo “está tudo bem”.
“Eugeo…
ainda está duvidando? Quem se importa se isso é um tabu? O mais importante não
é a vida de Alice?”
As palavras de Kirito, no fundo do coração de
Eugeo, eram as dele mesmo.
Eugeo conflitava consigo.
Os três prometeram estar sempre juntos, do
nascimento à morte. Vivendo pelo bem um dos outros.
“Não
era essa promessa que haviam feito? Então porque tinha dúvidas? A Igreja de
Axioma ou Alice, o que é mais importante? Essa resposta já estava decidida…
Sim, é… é…”
E então, sua cabeça para de funcionar. Uma
dor aguda preenche seu olho direito, visão borrada com vermelho cor de sangue.
Seus sentidos não mais aguçados, os membros amolecidos…
Então, pela “inabilidade” de Eugeo naquele
dia, Alice foi levada embora, para ser executada.
E é aqui que o Prólogo I termina.
E juntamente disso, a inocência e a criança
interior de Eugeo se esvaem de uma vez por todas.
Durante todo esse prólogo, fomos inseridos na
perspectiva do Eugeo. Apresentados a novas regras, novos poderes, personagens e
a um novo mundo em todos os aspectos.
E não havia ninguém melhor do que ele para
nos apresentar este mundo; há nada mais adequado do que, numa narrativa onde um
de seus principais temas é a liberdade, termos um protagonista preso, acorrentado a uma árvore que,
aqui é retratada como uma prisão social, fortemente enraizada, e nisso podemos envolver todo o Índice de Tabus, Igreja
e etc.
Para mim, todas as 70 páginas deste prólogo
tratam da desconstrução da percepção de mundo do Eugeo. Aos poucos nos
apresentando sementes de dúvidas e revoltas que revolvem a mente dele, nos
dizendo: “existe algo de errado.” E isso vai aumentando
gradativamente.
No final, ele perde toda a sua confiança e fé
na Igreja de Axioma e Cavaleiros da Integridade, a tal personificação máxima da
lei e justiça, seus heróis de infância.
E diante de tudo isso, ele ainda continuaria
ali, acorrentado por aquela árvore, por correntes feitas não de ferro, mas dos
galhos dela por toda a eternidade, sem poder fazer nada.
Até que um dia, um garoto de cabelos negros
apareceria novamente em seu caminho e mudaria tudo…
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